sábado, 15 de outubro de 2011

Augusto dos Anjos!


Creio que todos temos nossos momentos Augusto dos Anjos. Um pouco de melancolia não faz tão mal assim... Com a palavra, o poeta!

Ai! Um urubu pousou na minha sorte."
...
"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! 
O amor na Humanidade é uma mentira.

É. E é por isso que na minha lira 
De amores fúteis poucas vezes falo."
...

"Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;"
...
"Tome, doutor, essa tesoura e corte
Minha singularíssima pessoa"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Música do Dia!

Inspirada no post anterior,  o poema  Desejo, Victor Hugo, Amor pra recomeçar, com Frejat.


Composição: Frejat/Mauricio Barros/Mauro Sta. Cecília
Eu te desejo não parar tão cedo
pois toda idade tem prazer e medo
e com os que erram feio e bastante
que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado
ainda exista amor pra recomeçar,
pra recomeçar
Eu te desejo muitos amigos
mas que em um você possa confiar
e que tenha até inimigos
pra você não deixar de duvidar
Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar…
Desejo que você ganhe dinheiro
pois é preciso viver também
e que você diga a ele pelo menos uma vez
quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a quem amar…

Poema com Victor Hugo

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.


Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.


Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.


Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.


Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.


Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.


Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.


Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.


Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

Com a palavra, Pessoa!


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".                  (Fernando Pessoa)


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um poeminha musical...


Depois de ter você


Depois de ter você
                               Para que querer saber
que horas são?
Se é noite ou faz calor
Se estamos no verão
Se o sol virá ou não
Ou pra que é que serve
uma canção como essa?
Depois de ter voce 
poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas?
Para que amendoeiras pelas ruas?
Para que servem as ruas
depois de ter você?

Adriana Calcanhoto

Música do Dia!


Um pouco de nostalgia com o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens


Só pra relembrar...


Poeminha do Contra


Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mário Quintana




quinta-feira, 30 de junho de 2011

Música do Dia


Você vai lembrar de mim
(Nenhum de Nós)
Composição: Thedy Corrêa

Pensamento do dia



O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


Charles Chaplin
(O Último discurso, do filme O Grande Ditador)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Música do Dia: IRA!


Boneca de Cera
Ira!

Você não é mais a mesma
Você mudou pra valer
E um sorriso de seus lábios
Não terei
Eu sinto um frio
Que vem do seu coração
Mesmo nesse sol de verão
Apenas um suspiro
E um olhar perdido
Por que as coisas são assim?
Estamos perto um do outro
Mas você está longe de mim
É tão fácil, mas é impossível dizer.
Foi o tempo
Que tomou suas palavras
E hoje você parece
Uma boneca de cera
Com sua cara triste
Não sente os pingos da chuva
Nem minha presença sente também
Amiga eu quero lhe mostrar
Que estou ao seu lado
Amiga eu não quero te ver chorando
Foi o tempo
Que tomou suas palavras
Mas dê um tempo
Pra que seu imenso vazio
Seja tomado
Pela vontade de criar e viver

Sir. Mário Quintana!

BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados 
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

..............

"Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor. 
Estão dando corda 
ao relógio do mundo."

"As Flores do Mal", Charles Baudelaire

SpleenQuando o cinzento céu, como pesada tampa, 
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta, 
E a sua fria cor sobre a terra se estampa, 
O dia transformado em noite pardacenta; 

Quando se muda a terra em húmida enxovia 
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido, 
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria, 
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido; 

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece 
D'uma prisão enorme os sinistros varões, 
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece, 
Com paciente labor, fantásticas visões, 

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes, 
Lançando para os céus um brado furibundo, 
Como os doridos ais de espíritos errantes 
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo; 

Soturnos funerais deslizam tristemente 
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança, 
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente, 
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança! 

Charles Baudelaire

Pensamento do dia

"Nas relações humanas o perigo é coisa de todos os dias. Deves precaver-te bem contra este perigo, deves estar sempre de olhos bem abertos: não há nenhum outro tão frequente, tão constante, tão engana."
Séneca

terça-feira, 19 de abril de 2011

Hermano dame tu mano, um clássico latino-americano.



Hermano dame tu mano

(Mercedes Sosa)

Hermano dame tu mano vamos juntos a buscar
una cosa pequeñita que se llama libertad
esta es la hora primera este es el justo lugar
abre la puerta que afuera la tierra no aguanta más.


Mira adelante hermano es tu tierra la que espera
sin distancias, ni fronteras que pongas alta la mano
sin distancias, ni fronteras esta tierra es la que espera
el clamor americano levanten pronto la mano al Señor de las Cadenas.


Métale a la marcha, métale al tambor
métale que traigo un pueblo en mi voz,
métale a la marcha, métale al tambor
métale que traigo un pueblo en mi voz.


Hermano dame tu sangre, dame tu frío y tu pan
dame tu mano hecha puño que no necesito más,
esta es la hora primera este s el justo lugar
con tu mano y mi mano hermano empecemos ya.


Mira adelante hermano en esta hora primera
y apretar bien tu bandera cerrando fuerte la mano
y apretando a tu bandera en esta hora primera
con el puño americano le marque el rostro al tirano y el dolor se quede afuera.


Métale a la marcha, métale al tambor
métale que traigo un pueblo en mi voz,
métale a la marcha, métale al tambor
métale que traigo un pueblo en mi voz.

Música do Dia

Para comemorar o Dia da Luta Indígena, Mercedes Sosa!


                         'Indio Toba'

Indio toba
Sombra errante de la selva
Pobre toba reducido
Dueño antiguo de las flechas

Indio toba
Ya se han ido tus caciques,
Tus hermanos chirihuanos,
Abipones, mocovies . . .

Sombra de kokta y noueto
Viejos brujos de los montes
No abandonen a sus hijos
Gente buena, gente pobre . . .

Indio toba,
El guazuncho y las corzuelas,
La nobleza del quebracho
Todo es tuyo y las estrellas.

Indio toba ya viniendo de la cangaye
Quitilipi, aviaterai, caguazu, charadai,
Guaicuru, tapenaga, pirane, samuhu,
Matara, guacara, pinalta,
Matara, guacara, pinalta . . .

Indio toba no llorando aquel tiempo feliz
Pilcomayos y bermejos llorando por mi
Campamento de mi raza la america es
De mi raza de yaguarete
Es la america, es . . .

Toba dueño como antes del bagre y la miel
Cazador de las charatas, la onza, el tatu
Toba rey de yararas, guazupu y aguaras
El gualamba ya es mio otra vez
Otra vez, otra vez . . . 
Fuente: musica.com

19 de Abril, Dia da Luta Indígena

Levante
olhe a montanha
de onde vem
o vento, o sol e a água.
Você que controla o curso dos rios,
que semeias o vôo de sua alma,
levante
mira suas mãos,
para acreditar nelas
aperte as de seu irmão;
juntos iremos
unidos no sangue,
hoje é o tempo que pode ser amanhã.

Victor Jara

terça-feira, 29 de março de 2011

Música do Dia

Me Deixa em Paz, Monsueto e Airton Amorim

Composta por Monsueto Menezes, autor também do clássico "Mora na Filosofia", a música "Me Deixa em Paz", primeiro sucesso deste sambista (parceria com Airton Amorim), foi gravada, em 1952, por Marília Batista. Em seguida, foi gravada por Alaíde Costa e Milton Nascimento, no disco "Clube da Esquina". Outras composições de sua autoria também foram gravadas por outros intérpretes e compositores, tendo alcançado o merecido destaque somente depois de sua morte.


Me Deixa Em Paz

Composição : Monsueto / Aírton Amorim

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

quinta-feira, 24 de março de 2011

Eternamente Vinicius!

Para terminar o dia, o romantismo gauche do nosso eterno Poetinha, boêmio e apaixonado, carioca "de carteirinha", de quem disse, certa vez, Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural".  "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes".


"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida 
E se ao luar que atua desvairado
 Vem se unir uma música qualquer
 Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..." 


Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.



Soneto a quatro-mãos 

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado. 

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado. 

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse. 

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.



Canção do amor que chegou

Eu não sei, não sei dizer
Mas de repente essa alegria em mim
Alegria de viver
Que alegria de viver
E de ver tanta luz, tanto azul!
Quem jamais poderia supor
Que de um mundo que era tão triste e sem cor 
Brotaria essa flor inocente
Chegaria esse amor de repente
E o que era somente um vazio sem fim
Se encheria de cores assim

Coração, põe-te a cantar
Canta o poema da primavera em flor
É o amor, o amor chegou 
Chegou enfim


Vinicius de Moraes

Música do dia

De volta à seção Música do dia, uma lindíssima composição do saudoso Belchior, interpretada pela banda Los Hermanos, "À palo seco"!



À Palo Seco
(Belchior)

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:
2x (bis)

- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.
(2x)

Para encerrar a homenagem do dia, mais um pouco de Augusto dos Anjos!

Mais três sonetos:
 
A um mascarado

Rasga essa máscara ótima de seda
E atira-a á arca ancestral dos palimpsestos..
É noite, e, á noite, a escândalos e incestos
É natural que o instinto humano aceda!

Sem que te arranquem da garganta queda
A interjeição danada dos protestos,
Hás de engolir, igual a um porco, os restos
Duma comida horrivelmente azeda!

A sucessão de hebdômadas medonhas
Reduzirá os mundos que tu sonhas
Ao microcosmos do ovo primitivo...

E tu mesmo, após a árdua e atra refrega,
Terás somente uma vontade cega
E uma tendência obscura de ser vivo!


Último Credo

Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro - este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério!

É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um
Que matou Cristo e que matou Tibério!

Creio, como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolui...

Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanha vença
O homem parti
cular eu que ontem fui!


 Canto de Onipotência

Cloto, Átropos, Tifon, Laquesis, Siva...
E acima deles, como um astro, a arder,
Na hiperculminação definitiva
O meu supremo e extraordinário Ser!

Em minha sobre-humana retentiva
Brilhavam, como a luz do amanhecer,
A perfeição virtual tomada viva
E o embrião do que podia acontecer!

Por antecipação divinatória,
Eu, projetado muito além da História,
Sentia dos fenômenos o fim...

A coisa em si movia-se aos meus brados
E os acontecimentos subjugados
Olhavam como escravos para mim!


Em tempo!

Que me perdoem os poucos apreciadores deste blog, esqueci-me de mencionar que a postagem anterior foi em homenagem a todas as pessoas que julgam ser o próprio umbigo centro do universo. E viva o egocentrismo!

Tempos de Augusto dos Anjos...

O sincretismo da obra de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, poeta pré-modernista, combina características (na forma) parnasianas e simbolistas. A angústia, a morbidez, um pessimismo amargo e a descrença no amor são marcas da sua obra. Teria sido influenciado por Arthur Schopenhauer? Ou pelo Niilismo Nietzscheano? Ou as duas coisas juntas? 


Ai! Um urubu pousou na minha sorte."

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! 
O amor na Humanidade é uma mentira. 

É. E é por isso que na minha lira 
De amores fúteis poucas vezes falo."


"Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;"

"Tome, doutor, essa tesoura e corte/ Minha singularíssima pessoa"
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Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

............................

 Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!