segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Por que será que no meio do caminho, mesmo os mais floridos caminhos, há de sempre haver uma pedra?...


NO MEIO DO CAMINHO
 
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

Carlos Drummond de Andrade

Pensamento do dia...

"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."


Carlos Drummond de Andrade

Música do Dia!

... e o passado é uma roupa que não nos serve mais...



Velha Roupa Colorida

(Belchior)
 
Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer

Nunca mais meu pai falou: "She's leaving home"
E meteu o pé na estrada, "Like a Rolling Stone..."
Nunca mais eu convidei minha menina
Para correr no meu carro...(loucura, chiclete e som)
Nunca mais você saiu a rua em grupo reunido
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz

No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais

Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Black bird, o que se faz?"
Haven never haven never haven
Black bird me responde
Tudo já ficou atras
Haven never haven never haven
Assum-preto me responde
O passado nunca mais

Você não sente não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era jovem novo,
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer (bis)
E precisamos rejuvenescer

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Por onde andam as borboletas?

" No misterio do sem-fim equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro; no canteiro uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro, entre o planeta e o sem-fim, a asa de uma borboleta."

(Cecília Meireles)
 

 Foto: Wellington Cordeiro


Reflexão do dia

Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

                              Fernando Pessoa

Música do Dia

San Vicente, belíssima canção do Milton Nascimento, em parceria com Fernando Brant, em uma interpretação "de arrepiar"!



San Vicente

Coração americano
Acordei de um sonho estranho
Um gosto, vidro e corte
Um sabor de chocolate
No corpo e na cidade
Um sabor de vida e morte
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
A espera na fila imensa
E o corpo negro se esqueceu
Estava em San Vicente
A cidade e suas luzes
Estava em San Vicente
As mulheres e os homens
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
Unhnhnhnh...
As horas não se contavam
E o que era negro anoiteceu
Enquanto se esperava
Eu estava em San Vicente
Enquanto acontecia
Eu estava em San Vicente
Coração americano
Um sabor de vidro e corte
Lararararairai...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ao anjo que habita em cada um de nós...

Dentro de mim mora um anjo

(Cacaso)

Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim
dentro de mim mora um anjo
que tem a boca pintada
que tem as asas pintadas
que tem as unhas pintadas
que passa horas a fio
no espelho do toucador
dentro de mim mora um anjo
que me sufoca de amor

Dentro de mim mora um anjo
montado sobre um cavalo
que ele sangra de espora
ele é meu lado de dentro
eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim

Dentro de mim mora um anjo
que arrasta as suas medalhas
e que batuca pandeiro
que me prendeu nos seus laços
mas que é meu prisioneiro
acho que é colombina
acho que é bailarina
acho que é brasileiro

Foto: Anne Guedes


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Reflexões sobre o tempo

(Este post é em homenagem a alguém que, apesar de amar os relógios e "   timers"  , tem me ensinado que o tempo não passa de uma mera invenção de quem não tem o que fazer...) 
 
 
AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana 
 
 

Novidades no blog!

Esta é a mais nova seção do Poetando, Música do dia. Afinal, música também é poesia!
A de hoje é uma belíssima composição de Chico Buarque de Hollanda, em parceria com Edu Lobo, interpretada pelo Djavan. Valsa Brasileira é daquelas pra poeta nenhum botar defeito!
Espero que gostem. Um brinde à boa música!




Valsa Brasileira

(Chico Buarque e Edu Lobo)

Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu


Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer


Reflexão do dia

Platão, no diálogo Fedro, diz que a linguagem (ou a palavra) é um pharmakon, palavra grega, que em português se traduz por poção. Ele nos diz que a palavra pode ser remédio, veneno ou cosmético.

A Racionalidade a serviço do Sentimentalismo.

Será possível morrer de amor? O poema de Gonçalves Dias responde a esta questão.
Para aqueles que acreditam que o amor verdadeiro pode até levar à morte e que "o remédio que cura também pode matar", Se se morre de amor!

Se se morre de amor

(Gonçalves Dias)

Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, é não saber, não ter coragem
Pra dizer que o amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis d’lusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sejamos como os gatos!

Esta seção é uma homenagem aos nossos amigos felinos.
Aqui vai um trecho do poema do querido Pablo Neruda, seguido por uma canção do Lô Borges, ambos sobre gatos.
As fotos me foram gentilmente cedidas pelo amigo e fotógrafo Wellington Cordeiro.
Aprendamos a ser como os gatos!



Ode ao gato
(Pablo Neruda)

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
(...)


Como o Machado
 (Lô Borges)
 
Por que ando triste eu sei
É que eu vivo na rua
Espero algo mais deste frio
Espero um pouco mais e aprendi
A ser como o machado,
Que despreza o perfume do sândalo
A verdade é negra, eu sei
E o homem é mau
Espero algo mais desse ódio
Espero um pouco mais e aprendi
A ser como o meu gato,
Que descansa com os olhos abertos

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O bom humor de Mário Quintana...

Esta garimpei no meu pequeno acervo literário e não resisti em compartilhar aqui neste espaço.
Já que o momento é de otimismo, nada como o realismo bem humorado do Quintana!


"  O bom das filas
é nos convencerem
de que afinal
esta pobre vida
não é tão curta
como dizem"

Ajustando as Velas nº 2

A covardia é assunto
Dos homens, não dos amantes.
Os amores covardes não chegam a amores,
Nem a histórias, ficam por aí,
Nem a lembrança os pode salvar,
Nem o melhor orador conjugar.

(Silvio Rodriguez, em Óleo de Una Mujer con Sombrero)

É hora de ajustar as velas!


 "O pessimista se queixa do vento, o otimista espera o vento passar; e o realista ajusta as velas."
 (Autor desconhecido)

Há lições que só apreendemos com a prática, outras com a teoria; e outras, com a poesia! 
Aí vai uma "receitinha para se viver bem", por Fernando Pessoa:


De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!