sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Salve Carlos Drummond de Andrade!


Há 110 anos nascia o poeta Carlos Drummond de Andrade...


NÃO DEIXE O AMOR PASSAR



Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em q
ue nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

De volta ao começo

Bom dia!
Estamos de volta, após um momento de autoconhecimento e reencontro com o próprio eu. Estranha essa sensação de sentir saudades de si mesmo...
Para dar início a esta "nova fase" de confissões, confidências, reminiscências e  reincidências, trazemos Gabriel Garcia Marquez e o seu inesquecível e irretocável "O amor nos tempos do cólera".


“Já tinha então a impressão de conhecê-lo
como se tivesse vivido com ele toda a vida,
e acreditava que ele era capaz de mandar o navio voltar ao porto
se isso pudesse curar sua dor.”

"Depois de 54 anos, sete meses, onze dias e noites, meu coração finalmente se realizou. E eu descobri, para a minha alegria, que é a vida e não a morte, que não tem limites."

Gabriel Garcia Marquez, in O amor nos tempos do cólera

domingo, 9 de setembro de 2012

Apenas um registro

Entre minhas preferidas, não posso deixar de guardar aqui, na minha pequena caixinha de sonhos, essa do Neruda.


A DANÇA

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio

ou flecha de cravos que propagam o fogo:

te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.


Te amo como a planta que não floresce e leva

dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,

e graças a teu amor vive escuro em meu corpo

o apertado aroma que ascendeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

te amo diretamente sem problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,


Se não assim deste modo em que não sou nem és

tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha

tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.



(Pablo Neruda, do Livro Cem Sonetos de Amor)



sábado, 18 de fevereiro de 2012

Mas chegou o Carnaval...

Soneto de Carnaval


Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.
Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimí-lo.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A magia de Neruda!

Por que tão breve é o amor, e tão longo é o esquecimento?...

“Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: ‘A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe’.
O vento da noite gira no céu e canta.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.


Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.

Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,

a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.”

Pablo Neruda



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Leminski

Hoje a noite não tem luar.... Será que ela foi ao cinema?

A lua no cinema


A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
   a história de uma estrela
que não tinha namorado.

   Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
   dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

   Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
   e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

   A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
   que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!

(Paulo Leminski)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Ouvir estrelas?

É chegada a hora de ouvir a voz silenciosa das estrelas... Uma boa noite!

Via Láctea 

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

(Olavo Bilac)

Com a palavra, Fernando Pessoa!

"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Máquina breve

Somos também "máquinas breves".
Por mais perfeita e esplendorosa que seja nossa existência, um dia jazemos insignificantes...


O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,

que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.

Parecia uma esmeralda

e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.

(Cecilia Meireles)



Pensamento do dia

Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.
(Cecilia Meireles)

Ah, os Plurais...

Porque queremos sempre ser plurais, nunca singulares...

(...)
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

(Pablo Neruda)

Mais uma vez, a magia de Neruda!


Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.


Pablo Neruda - V

Bom Dia!

A vida é como uma escala musical. Percorre dos tons mais baixos aos mais altos. Existem acordes maiores, e os que são menores. Mas, entre tudo isso, existem o bemol e o sustenido...


Acordei bemol
Tudo estava sustenido

Sol fazia
Só não fazia sentido

Paulo Leminski

A magia de Neruda

Por hoje é só. Para encerrar essa edição, fiquemos com a magia de Pablo Neruda! Boa noite...


O TEU RISO

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


(Dedico a alguém cujo sorriso, tem embalado minhas noites de sono)

Mais uma vez, Leminski

E a grande temática de grandes poetas: a morte.
Com toda certeza, um gauche!



já me matei faz muito tempo 
me matei quando o tempo era escasso 
e o que havia entre o tempo e o espaço 
era o de sempre 
nunca mesmo o sempre passo 

morrer faz bem à vista e ao baço 
melhora o ritmo do pulso 
e clareia a alma 

morrer de vez em quando 
é a única coisa que me acalma


Paulo Leminski

Simplesmente Leminski!


Apagar-me 


Apagar-me 
diluir-me 
desmanchar-me 
até que depois 
de mim 
de nós 
de tudo 
não reste mais 
que o charme.

 

Paulo Leminski


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Viajar pela Mitologia Grega... isso é poetar!!!

Desde tempos remotos, a cultura e a mitologia greco-romana vem influenciando as ações humanas, seja na arte e na religião, seja inspirando aos poetas e aos amantes...
Reproduzo aqui uma bela história, Orfeu e Eurídice.
 Além de Orfeu negro, um filme ítalo-franco-brasileiro de 1959dirigido por Marcel Camus, com roteiro adaptado por Camus e Jacques Viot a partir da peça teatral Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes, o filme ganhou outra versão em 1999, sob o nome Orfeu, dirigida por Cacá Diegues.
Na adaptação, a história ocorre em uma favela do Rio de Janeiro, na época do Carnaval.
Na trilha sonora e no elenco, Tony Garrido, cuja bela canção reproduzo em seguida.


Orfeu é, na mitologia grega , poeta e músico. Filho da musa Calíope, era o mais talentoso dos músicos. Quando tocava a sua lira, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo. As árvores curvavam-se para ouvir os sons no vento. Tocava a lira de Apolo pois dizem que Apolo era seu pai. Orfeu era casado com Eurídice. Ela era tão bonita que atraiu um homem chamado Aristeu. Quando ela recusou as suas atenções, Aristeu perseguiu-a. Tentando escapar-lhe, ela tropeçou numa serpente que a mordeu e Eurídice morreu. Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando a sua lira, foi até o Mundo dos Mortos, para tentar trazê-la de volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro, Caronte, a levá-lo vivo pelo Rio Estige. A canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões; o seu tom carinhoso aliviou os tormentos dos condenados. Finalmente Orfeu chegou ao trono de Hades. O rei dos mortos ficou irritado, ao ver que um vivo tinha entrado no seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu comoveu-o, e ele chorou lágrimas de ferro. Sua mulher, Perséfone, implorou-lhe que atendesse o pedido de Orfeu. Assim, Hades atendeu o seu desejo: Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma condição: que ele não olhasse para ela até que ela, de novo, estivesse à luz do sol. Orfeu partiu pelo caminho íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração, enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas então, virou-se, para se certificar de que Eurídice o estava seguindo. Por um momento ele viu-a, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Enquanto ele olhava, ela transformou-se de novo num fino fantasma, soltou um doloroso gemido final de amor e pena, não mais do que um suspiro na brisa, que saía do Mundo dos Mortos. Ele havia-a perdido para sempre. Em total desespero, Orfeu tornou-se amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda da sua amada. Furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, e despedaçaram-no. Jogaram a sua cabeça cortada no Rio Hebrus, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!" Chorando, as nove musas reuniram os seus pedaços e enterraram-nos no Monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente do que os outros. Orfeu, na morte, uniu-se à sua amada Eurídice. Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. As suas pernas tornaram-se troncos de madeira pesada, e também os seus corpos, até que elas se transformaram em silenciosos carvalhos. Assim permaneceram pelos séculos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que, por fim, esses troncos mortos e vazios caíram no chão.


Musica do Dia

Aproveitando a "inspiração", encerro esta noite de retorno do blog com uma animação bonitinha e uma bela música, ultra-romântica, para todos aqueles que têm alguém em quem pensar...
Boa noite!


Inspiração!


Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

                  Florbela Espanca

De volta!

Estou de volta!
Depois de uma longa fase de reclusão, eis que a poesia me toca a alma e faz-me retornar ao blog.
O poema dessa noite foi escolhido por traduzir um estado de minha alma.
Sou multidão ou solidão, sou euforia ou melancolia, sou alegria ou reclusão, sou todos ou ninguém, sou racional ou delirante... Sou tudo isso junto, o que importa é saber que simplesmente SOU!
Com vocês, Ferreira Gullar!


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?