terça-feira, 29 de março de 2011

Música do Dia

Me Deixa em Paz, Monsueto e Airton Amorim

Composta por Monsueto Menezes, autor também do clássico "Mora na Filosofia", a música "Me Deixa em Paz", primeiro sucesso deste sambista (parceria com Airton Amorim), foi gravada, em 1952, por Marília Batista. Em seguida, foi gravada por Alaíde Costa e Milton Nascimento, no disco "Clube da Esquina". Outras composições de sua autoria também foram gravadas por outros intérpretes e compositores, tendo alcançado o merecido destaque somente depois de sua morte.


Me Deixa Em Paz

Composição : Monsueto / Aírton Amorim

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

quinta-feira, 24 de março de 2011

Eternamente Vinicius!

Para terminar o dia, o romantismo gauche do nosso eterno Poetinha, boêmio e apaixonado, carioca "de carteirinha", de quem disse, certa vez, Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural".  "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes".


"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida 
E se ao luar que atua desvairado
 Vem se unir uma música qualquer
 Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..." 


Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.



Soneto a quatro-mãos 

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado. 

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado. 

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse. 

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.



Canção do amor que chegou

Eu não sei, não sei dizer
Mas de repente essa alegria em mim
Alegria de viver
Que alegria de viver
E de ver tanta luz, tanto azul!
Quem jamais poderia supor
Que de um mundo que era tão triste e sem cor 
Brotaria essa flor inocente
Chegaria esse amor de repente
E o que era somente um vazio sem fim
Se encheria de cores assim

Coração, põe-te a cantar
Canta o poema da primavera em flor
É o amor, o amor chegou 
Chegou enfim


Vinicius de Moraes

Música do dia

De volta à seção Música do dia, uma lindíssima composição do saudoso Belchior, interpretada pela banda Los Hermanos, "À palo seco"!



À Palo Seco
(Belchior)

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:
2x (bis)

- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.
(2x)

Para encerrar a homenagem do dia, mais um pouco de Augusto dos Anjos!

Mais três sonetos:
 
A um mascarado

Rasga essa máscara ótima de seda
E atira-a á arca ancestral dos palimpsestos..
É noite, e, á noite, a escândalos e incestos
É natural que o instinto humano aceda!

Sem que te arranquem da garganta queda
A interjeição danada dos protestos,
Hás de engolir, igual a um porco, os restos
Duma comida horrivelmente azeda!

A sucessão de hebdômadas medonhas
Reduzirá os mundos que tu sonhas
Ao microcosmos do ovo primitivo...

E tu mesmo, após a árdua e atra refrega,
Terás somente uma vontade cega
E uma tendência obscura de ser vivo!


Último Credo

Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro - este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério!

É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um
Que matou Cristo e que matou Tibério!

Creio, como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolui...

Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanha vença
O homem parti
cular eu que ontem fui!


 Canto de Onipotência

Cloto, Átropos, Tifon, Laquesis, Siva...
E acima deles, como um astro, a arder,
Na hiperculminação definitiva
O meu supremo e extraordinário Ser!

Em minha sobre-humana retentiva
Brilhavam, como a luz do amanhecer,
A perfeição virtual tomada viva
E o embrião do que podia acontecer!

Por antecipação divinatória,
Eu, projetado muito além da História,
Sentia dos fenômenos o fim...

A coisa em si movia-se aos meus brados
E os acontecimentos subjugados
Olhavam como escravos para mim!


Em tempo!

Que me perdoem os poucos apreciadores deste blog, esqueci-me de mencionar que a postagem anterior foi em homenagem a todas as pessoas que julgam ser o próprio umbigo centro do universo. E viva o egocentrismo!

Tempos de Augusto dos Anjos...

O sincretismo da obra de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, poeta pré-modernista, combina características (na forma) parnasianas e simbolistas. A angústia, a morbidez, um pessimismo amargo e a descrença no amor são marcas da sua obra. Teria sido influenciado por Arthur Schopenhauer? Ou pelo Niilismo Nietzscheano? Ou as duas coisas juntas? 


Ai! Um urubu pousou na minha sorte."

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! 
O amor na Humanidade é uma mentira. 

É. E é por isso que na minha lira 
De amores fúteis poucas vezes falo."


"Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;"

"Tome, doutor, essa tesoura e corte/ Minha singularíssima pessoa"
.........................


Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

............................

 Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Silêncio! Precisamos ouvir a silenciosa respiração do mundo...

Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois, 
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

(Clarice Lispector)


Música do Dia!

Para começar o dia, o talento de Marcelo Camelo nessa lindíssima composição, interpretada pela Maria Rita!



Veja Bem, Meu Bem

Composição: Marcelo Camelo
 
Veja bem, meu bem
Sinto te informar
Que arranjei alguém
Prá me confortar
Este alguém está
Quando você sai
Eu só posso crer
Pois sem ter você
Nestes braços tais...
Veja bem, amor
Onde está você?
Somos no papel
Mas não no viver
Viajar sem mim
Me deixar assim
Tive que arranjar
Alguém prá passar
Os dias ruins...
Enquanto isso
Navegando eu vou sem paz
Sem ter um porto
Quase morto, sem um cais
E eu nunca vou
Te esquecer, amor
Mas a solidão
Deixa o coração
Neste leva-e-trás...
Veja bem além
Destes fatos vis
Saiba: traições
São bem mais sutis
Se eu te troquei
Não foi por maldade
Amor, veja bem
Arranjei alguém
Chamado saudade
Amor, veja bem
Arranjei alguém
Chamado saudade...
 

Uma resposta...

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

(Mário Quintana)